domingo, 29 de abril de 2012

RELATOS SOBRE A EDUCAÇÃO








Estou aqui mais uma vez usando este espaço para fazer uma crítica àquilo que descordo veemente, devido ao que presencio todos os dias no cotidiano escolar.
Nosso Sistema de ensino esmaga a autonomia do professor dentro da sala de aula e brinca com nossa capacidade de sermos educadores.
Temos que suportar muitos tipos de humilhações dentro de uma sala de aula, mas creio que a maior de todas é ter que atribuir notas, méritos a um ser que simplesmente não produz nada...NADA!!
Passei recentemente por um processo que foi difícil de absorver. Tenho vários alunos que não se interessam pelos estudos, mas tenho uma aluna em particular que tem a capacidade de se levantar de madrugada, se arrumar: passa batom, penteia os cabelos das mais variadas formas, chega à escola, se senta e ali fica as quatro horas e meia do período letivo sem fazer absolutamente nada: não copia, não lê, não produz, não escreve...nada, nada, nada.
Estamos encerrando o bimestre e indaguei meus superiores sobre o que fazer com uma criança assim, pois além de tudo isso, tem inúmeras faltas sem justificativas.
A "bomba" estourou, precisei atribuir nota diferente da que lhe cabia. Se um ser não vem à escola, não copia matéria, não participa das aulas, falta em todas as provas, que nota você leitor atribuiria? Eu não tenho como atribuir, pois nada foi produzido.
Mas fui obrigada a dar-lhe nota para que nenhum tipo de processo recaísse sobre mim e sobre a escola, pois a lei protege o aluno que não age por sua vida, mas não protege o professor que luta pela vida do aluno.
Não me encaixo nesse Sistema falido de ensino, que dá méritos sem merecer, que subjuga o valor do professor que se sente acuado para tomar qualquer tipo de atitude coerente com as situações que ocorrem.
Sinto-me como educadora, não pouco qualificada,  uma verdadeira boneca fantoche na mão de um governo hipócrita, que me faz sentir sem valor algum, que me tira a autonomia de cumprir meu verdadeiro papel de ensinar e fazer com que as escolhas dos alunos sejam assumidas pelo caminho bom que escolhem ou ruim.
O Sistema engole o professor acusando-o de não ter "recuperado" o aluno, se acaso não lhe atribuímos notas, mas eu em minha "inocência" educacional pergunto: quem acusa e cobra o aluno que não quer estudar?
Deixo esta pergunta angustiante para mim e tantos educadores pelo país afora e indago mais uma vez: onde vamos chegar deste jeito?
Que país é esse meu Deus? Que país é esse?
O que me deixa mais perplexa é constatar a mediocridade de um povo que se deixa alienar por um governo que simplesmente quer que sua população seja assim, pronta para ser dominada, que vai passar anos no banco da escola e mal vai saber assinar seu nome. 
Dessa maneira o Sistema sorri pela facilidade em ter o poder literalmente nas mãos para brincar de Deus com a população. Os alunos riem dos professores, pois podem fazer e desfazer deles que nada os acontece e o professorado chora por ver o mundo afundar sem o respeito devido com a Educação.
Meu sonho de mudar o mundo através da Educação vai se minguando a cada atitude como esta.
O que fazer? Minhas forças estão acabando.

Cibele Palladino

sábado, 14 de abril de 2012

CARREGO COMIGO


Carrego comigo

há dezenas de anos
há centenas de anos
o pequeno embrulho.
Serão duas cartas?
será uma flor?
será um retrato?
um lenço talvez?
Já não me recordo
onde o encontrei.
Se foi um presente
ou se foi furtado.
Se os anjos desceram
trazendo-o nas mãos,
se boiava no rio,
se pairava no ar.
Não ouso entreabri-lo.
Que coisa contém,
ou se algo contém,
nunca saberei.
Como poderia
tentar esse gesto?
O embrulho é tão frio
e também tão quente.
Ele arde nas mãos,
é doce ao meu tato,
Pronto me fascina
e me deixa triste.
Guardar em segredo
em si e consigo,
não querer sabê-lo
ou querer demais.
Guardar um segredo
de seus próprios olhos,
por baixo do sono,
atrás da lembrança.
A boca experiente
saúda os amigos.
Mão aperta mão,
peito se dilata.
Vem do mar o apelo,
vêm das coisas gritos.
O mundo chama!
Carlos! Não respondes?
Quero responder.
A rua infinita
vai além do mar.
Quero caminhar.
Mas o embrulho pesa.
Vem a tentação
de jogá-lo ao fundo
da primeira vala.
Ou talvez queimá-lo:
cinzas se dispersam
e não fica sombra
sequer, nem remorso.
Ai, fardo sutil
que antes me carregas
do que és carregado,
para onde me levas?
Por que não dizes
a palavra dura
oculta em teu seio,
carga intolerável?
Seguir-te submisso
por tanto caminho
sem saber de ti
senão que sigo.
Se agora te abrisses
e te revelasses
mesmo em formas de erro,
que alívio seria!
Mas ficas fechado.
Carrego-te à noite
se vou para o baile,
De manhã te levo
Para a escura fábrica
De negro subúrbio.
És, de fato, amigo
Secreto e evidente.
perder-te seria
perder-me a mim próprio.
Sou um homem livre
mas levo uma coisa.
Não sei o que seja.
Eu não a escolhi.
Jamais a fitei.
Mas levo uma coisa.
Não estou vazio
não estou sozinho,
pois anda comigo
algo indescritível.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 2 de abril de 2012

VIVER OU EXISTIR?

Sofro, choro, lamento
Quem na vida não teve algum tormento?
Posso caminhar de cabeça baixa
Cruzando os braços e que eu nada faça
Atormentando-me pela dureza da vida
Plantando  sementes
Dizendo que ela nada tem de bonita...
Viver ou existir?
Qual a sua escolha?
Passar por esse mundo vagando
Se subjugando, dizendo 
não posso, só lamentando?
Ou pensa em juntar todas as pedras
que a vida lhe jogou
Fazer um castelo, mas não de horror
Provar-te que as dores existem
Mas Deus quer que persistem
A vontade a garra para viver.
Viver ou existir?
Eu escolho viver
Quero transformar o mundo
Sendo um ser profundo
Fazendo a quem estiver por perto a diferença
Independente de credo, crença.
Apenas existir
Pode levar um ser a sucumbir...
Desistir...
O que eu quero é viver
Mesmo sofrendo, chorando,perdendo
eu quero me arriscar
Viver cada suspiro, cada caminhar
Quero buscar e levar amor
Quero ajudar o próximo na dor.
Viver é melhor que existir


Cibele Palladino